A Encruzilhada entre Segurança e Paixão — Ellen Luna

Jornada do Programador

A Encruzilhada entre Segurança e Paixão — Ellen Luna

Gabriel Nascimento
Escrito por Gabriel Nascimento em 21 de fevereiro de 2021

Esta é uma história sobre 2 estradas – Segurança e Paixão. É uma conversa estimulante para quem escolheu Segurança por muito tempo – meses, anos, talvez uma vida inteira – e sente que está na hora de dar uma chance a Paixão.

Tradução do artigo “The Crossroads of Should and Must” de Ellen Luna:

Existem 2 caminhos na vida: Segurança e Paixão. Chegamos a esta encruzilhada uma vez ou outra. E a cada vez, podemos escolher.

Ao longo do ano passado, escolhi paixão repetidas vezes. E foi petrificante. E às vezes foi sombrio. Mas eu nunca, jamais, trocaria o ano passado por nada. Este artigo são meus 3 maiores aprendizados dessa experiência. É para quem está pensando em saltar da Segurança pra Paixão. Qualquer pessoa que procura seguir a energia no fundo do peito, mas não tem certeza de como.

Segurança é como os outros querem que nós estejamos presentes no mundo – como supostamente deveríamos pensar, o que deveríamos dizer, o que devemos ou não devemos fazer. É a vasta gama de expectativas que os outros colocam sobre nós. Quando escolhemos Segurança a viagem é tranquila, o risco é pequeno.

Paixão é diferente – não há opções e não temos escolha.

Devemos ser quem somos, o que acreditamos e o que fazemos quando estamos sozinhos com nosso eu mais verdadeiro e autêntico. São nossos instintos, nossos desejos e anseios, as coisas, lugares e ideias que buscamos, a intuição que surge de algum lugar dentro de nós. Paixão é o que acontece quando paramos de nos conformar com os ideais de outras pessoas e começamos a nos conectar com as nossas. Porque quando escolhemos a Paixão, não estamos mais procurando inspiração lá fora. Em vez disso, estamos ouvindo nosso chamado interior, de algum lugar luminoso e misterioso.

Paixão é o motivo de Van Gogh pintar toda a sua vida sem nunca receber o reconhecimento público. Paixão é o motivo de Mozart interpretar Don Giovani e Coltrane tocar sua nova música, mesmo que os críticos o considerassem feio. Paixão é o motivo daquele advogado na casa dos 30 passar 3 anos escrevendo seu primeiro romance, apenas para ser rejeitado por 3 dezenas de editores. Ele honrou seu chamado e acabou recebendo um “sim”, e é por isso que John Grisham é um nome conhecido hoje. A Paixão não é exclusiva para escritores, pintores e compositores. Paixão é o motivo de, nos primeiros dias, o Airbnb vender caixas de cereais para pagar as contas, porque ninguém dava dinheiro para eles e todas as métricas concebíveis diziam que eles deveriam parar.

Enquanto trabalhava na Mailbox, me deparei com a TED talk do Stefan Sagmeister sobre empregos, carreiras e vocações.

Ele falou sobre suas diferenças e comecei a me perguntar qual eu tinha. Ao mesmo tempo, também estava lendo uma biografia sobre Picasso.

Nela, Arianna Huffington descreve a alegria que sentiu ao aprender sobre como Picasso escolheu viver sua vida:

Quanto mais eu descobria sobre sua vida e quanto mais me aprofundava em sua arte, mais os dois convergiam . “Não é o que um artista faz que conta, mas o que ele é”, disse Picasso. Mas sua arte era tão autobiográfica que o que ele fez foi o que ele era.

A vida de Picasso combinou perfeitamente com seu trabalho. Era tudo uma enorme mistura de touradas, praias e bebida. E nós poderíamos dizer. Porque olhar para uma das telas de Picasso é literalmente olhar para sua alma. E é exatamente isso o que acontece quando nossa vida, nossa essência, é a mesma com o nosso trabalho. É quando as descrições de cargos e títulos não fazem mais sentido porque não vamos trabalhar – nós somos o trabalho.

E isso me levou a uma grande hipótese. E se…

E se quem somos e o que fazemos se tornarem a mesma coisa? E se nosso trabalho for tão completamente autobiográfico que não possamos separar o produto da pessoa? E se nossos empregos forem nossas carreiras e nossas vocações?

E foi nessa hora que minha cabeça explodiu.

Escolher a Paixão parece fantástico, certo? Para entrar na plenitude de nossos dons e oferecê-los ao mundo na forma de nosso trabalho.

Bem, acontece que escolher a Paixão é assustador, difícil e muito parecido com pular de um penhasco terrivelmente alto onde você não pode ver nada lá embaixo.

Foi há 1 ano que pulei do primeiro de muitos penhascos, deixando um emprego dos sonhos na Mailbox para fazer arte.

Seção 1 – A escolha de Paixão cria o tipo de trabalho que coloca ondas em todo o universo

Mas começa como um sussurro, um chamado de algum lugar distante.

O caminho para minha Paixão começou com um sonho recorrente sobre um quarto branco.

Pisos de concreto, paredes brancas e um colchão no chão. Era isso. E eu visitaria este quarto praticamente todas as noites. Um dia, um amigo fez a pergunta que mudaria para sempre o curso da minha vida: “Você já pensou em encontrar o seu sonho na vida real?” Eu não tinha, mas depois comecei a me perguntar …

Craigslist, pensei.

Enquanto examinava as pequenas fotos de apartamentos para alugar, me senti ridícula. Mas então, eu vi. A sala branca. Lá estava, literalmente bem ali na tela do computador – meu sonho – em uma imagem minúscula de apenas 72 x 72 pixels.

E, assim, minha jornada começou.

Tendo crescido no Texas, eu tinha uma vaga ideia do que significava ser “chamada” – no grande sentido da palavra – embora nunca tivesse experimentado isso por mim mesma. Moisés foi uma das minhas histórias favoritas, porque Moisés era a última pessoa na terra que escolheríamos para conduzir milhares de pessoas à terra prometida. Ele era quieto; ele tinha uma gagueira; e ainda assim, Moisés foi chamado.

“Persiga sua bem-aventurança e as portas se abrirão onde antes não havia portas”, escreveu o filósofo moderno Joseph Campbell. Mas, recentemente, alguém me fez uma pergunta: “Mas e se eu não ouvir o chamado?” ele perguntou. “E se eu quiser ouvir, mas não puder? O que eu faço então?”

E 2 ideias vieram a mente.

Na Mailbox, adotamos uma prática bem conhecida da Amazon de escrever nosso futuro comunicado de imprensa. Isso mesmo, escrevemos um comunicado de imprensa real sobre um produto inexistente – aquele que queríamos que existisse no mundo. Nós imaginamos as manchetes. Imaginamos o que aconteceria se todos os nossos sonhos mais selvagens se tornassem realidade. Até colamos dentro de uma revista e colocamos na mesinha de centro. A maioria de nós tem esse tipo de sonho assustador com nossos produtos ou empresas, mas poucos de nós o fazem o mesmo com nossas vidas.

Roz Savage, uma consultora de gestão em Londres vivendo “a grande vida” tinha 33 anos quando se sentou e escreveu 2 versões de seu obituário:

O primeiro foi a vida que eu queria ter. Pensei nos obituários que gostava de ler, nas pessoas que admirava … nas pessoas que realmente sabiam como viver ”, diz ela. “A segunda versão era o obituário para o qual eu estava indo – uma vida convencional, comum e agradável. A diferença entre os 2 era surpreendente. Claramente, algo teria que mudar … Eu senti que estava descobrindo algumas coisas. Mas eu era como um carpinteiro com um novo conjunto de ferramentas e nenhuma madeira para trabalhar. Eu precisava de um projeto. E então decidi remar o Atlântico.

De volta à Mailbox, eram 8h da manhã de quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013, quando abrimos a primeira garrafa de champanhe. Éramos 13 e estávamos todos de olhos arregalados, olhando para nossos monitores, observando 9 meses de trabalho no Aplicativo iPhone serem lançados no mundo. Enquanto eu olhava para as pessoas incríveis naquela sala, e via os números ao vivo crescerem e crescerem, eu sabia que este momento era um dos destaques da minha vida. Mas, no fundo da minha mente, eu não pude deixar de me perguntar o que tudo isso tinha a ver com meu sonho de um quarto branco.

Seção 2 – Escolher a Paixão geralmente requer um salto de fé

Se você já espiou pela beira de um penhasco, você já sentiu medo.

Escolher a Paixão levanta questões assustadoras, grandes e, muitas vezes, sem uma resposta fácil à vista. Aqui estão os 3 maiores medos que já ouvi e o que fazer com eles.

01

O dinheiro pode ser uma ponte pra liberdade de explorar as Paixões. E muitas vezes não exige muito. Mas requer determinação. O dinheiro pode ser usado para comprar um dia, uma semana, um mês de tempo para trabalhar em uma Paixão, o que pode valer nada. Ou pode ser usado para comprar um suéter, um terno, um carro – cujo valor é óbvio e de baixo risco.

Claro, a melhor maneira de ganhar dinheiro é descobrir o que você ama e depois se entregar a isso. Porque as pessoas que sempre escolhem a Paixão ao invés da Segurança encontram uma maneira de fazer funcionar e, depois de dar o salto, descobrirão que é mais fácil ganharem dinheiro fazendo o que amam do que jamais imaginaram.

02

Encontrar nossa vocação não significa que precisamos deixar nossos empregos. E também não significa que precisamos reservar uma passagem só de ida para uma terra mágica distante onde não há serviço de celular. Como alguém que já fez essas 2 coisas, sei em primeira mão que é fácil fazer uma mala pequena, se despedir e apertar o botão de ejeção por um tempo. Mas o retorno, a fase de reentrada, pode ser absolutamente brutal.

O caminho mais difícil, mais complicado e mais sustentável é fazer mudanças todos os dias em nossa realidade. Para integrar, não obliterar. Para Sheryl Sandberg, Faça Acontecer foi um pequeno, mas crescente, pedacinho de seu coração durante anos, até explodir no mundo – o tempo todo ela ainda dirigia uma das maiores empresas do mundo e criava 2 filhos. Tecer nossa Paixão em nossa realidade existente é sobre co-projetar pequenas oportunidades com nossas equipes. É sobre reservar um tempo de silêncio para ficar a sós com nossos pensamentos e, então, realmente seguir em frente. É sobre fazer uma pequena coisa, qualquer coisa, para honrar nossa verdade pessoal – hoje.

Mas, embora dinheiro e tempo sejam os motivos mais citados para não darmos o salto, acredito que o verdadeiro motivo é algo mais profundo e muito mais assustador.

03

Enquanto a Paixão vem de algum lugar dentro de nós, uma bela verdade que nos chama por dentro, Segurança vem de algum lugar externo, um lugar que é igualmente importante e poderoso. Segurança vem do lugar que chamamos de lar, das pessoas que amamos, do mundo que criamos – as pessoas, lugares e coisas que nos definem.

É aqui, de pé na beira do penhasco, olhando para baixo, ouvindo o chamado da sereia, que sentimos a terrível perspectiva de abandono, fracasso e humilhação. E este é o momento exato em que as pessoas decidem não dar o salto – para evitar aquele grande desconhecido, aquele lugar transformador onde nada está escrito, nada é garantido e tudo é possível.

Pegue um pedaço de papel e escreva os números de 1 a 10 no lado esquerdo da página. No topo, intitule-o “Do que estou com tanto medo?” Esta é a sua lista de piores cenários. Esta é a sua lista de coisas que fazem você pensar “Todos eles vão rir de mim”. Esses são seus maiores medos e você tem 10 minutos para anotá-los.

Vai.

Linha por linha, percorra cada um deles. Eles realmente ririam de você? Eles iriam? Como você se sente sobre isso? Linha por linha, questione todos os seus medos. Você realmente seria um sem-teto? Você realmente estaria sozinho? Você realmente precisa de tanto dinheiro? Esta é uma lista de suas tradeoffs. E eles são os maiores obstáculos que estão no seu caminho.

Seção 3 – Escolher a Paixão é uma prática diária, uma escolha recorrente

Só porque escolhemos a Segurança ontem, não significa que escolheremos a Paixão hoje. E só porque escolhemos a Paixão hoje, não significa que não voltaremos a Segurança amanhã.

O crepúsculo estava caindo quando cheguei ao quarto branco dos meus sonhos. Era puro, branco, perfeito e um símbolo de algo novo, de começos. Ao olhar em volta, pensei: “O que diabos eu fiz? Por que estou aqui?” E claro como o dia, ouvi uma voz dizer: “É hora de pintar”.

Com o passar do tempo, comecei a escolher a paixão com mais freqüência do que a Segurança. E com o tempo, continuar a escolher a Paixão abriu portas para mundos que eu nunca poderia ter imaginado. Aqui estão 3 hábitos, que integrei em minha rotina diária, que me ajudaram a alcançar uma Paixão sustentável.

Solidão

Muitas vezes, reconectar-se com a estrada pra Paixão não significa correr em círculos.

Esta jornada interior solitária foi chamada de muitas coisas ao longo do tempo – os mitos a chamam de labirinto, abismo, floresta e jornada noturna. Culturalmente, é chamado de “caminhada”, a busca da visão e a peregrinação. Em tecnologia, recentemente foi chamado de “a luta” por Ben Horowitz.

Em busca de solidão, acabei me encontrando em um Airbnb em Bali sozinha por 6 semanas, no meio dos arrozais, sem telefone, sem e-mail e sem paredes em 3 lados da casa.

Chamei minha nova casa de “a casa sem paredes”. Estava embrulhada em palmeiras, cheirava a jasmim e, nas semanas seguintes, lagartixas, sapos e pessoas iam e vinham quando bem entendiam, porque não havia regras nem paredes para impedi-los. Há muito tempo eu sonhava em estar em um lugar onde o interior e o exterior fossem um só.

Por 6 semanas, na “casa sem paredes”, diminuí o ritmo, silenciei as vozes e relaxei em um lugar tranquilo dentro de mim. Sonhei sob as palmeiras, o céu noturno e várias fases da lua.

Foco

Foi na “casa sem paredes” que me apaixonei pela lua. E, um dia, um amigo balinês meu decidiu transformar 2 de minhas pinturas em têxteis – por diversão.

Depois de alguns meses, eu estava de volta a São Francisco tentando descobrir o que fazer com esses tecidos requintados. O processo batik de pintar à mão cada tecido era tão bonito, e tão próximo da minha própria prática de pintura, que eu queria encontrar uma maneira de combinar essas técnicas em uma escala maior. Então decidi ir para Nova York, me esconder em um Airbnb e descobrir como em 2 semanas.

Um amigo meu uma vez comparou o foco ao feixe de uma luz magnética – se você mantiver a luz fora de foco, a luz brilha em todos os lugares. É brilhante, mas é cegante.

Se você focalizar a luz e comprimi-la, ela se tornará um feixe laser. Focado e forte.

Traga outras pessoas

Como uma antiga IDEO-er que acredita no poder do design centrado no ser humano, comecei a me perguntar, até mesmo a me preocupar, como essa jornada interior se conectaria com o mundo exterior. E isso é o que eu encontrei:

Durante minhas 2 semanas em Nova York, mandei um e-mail para uma dúzia das mulheres mais talentosas e brilhantes que conheci, convidando-as a revisar coletivamente meu trabalho e me dar um feedback no final do meu sprint. Claro que eu precisava trazer outros, percebi de repente, mas não antes de saber no que estava trabalhando e por quê.

As mulheres deram um feedback inestimável, levando a insights significativos. E é por isso que, na semana seguinte, me vi de novo com destino a Bali. Porém, desta vez, com 200 metros de tecido bruto. Trabalhando com mestres do batik, pintamos à mão 100 peças de arte de edição limitada, inspiradas nas fases da lua. Lançamos os têxteis como a coleção inaugural do Projeto Bulan e esgotamos em 2 semanas.

Foto de Michael O’Neal

Seção 4 – Aqueles que escolhem a paixão

Quando quem somos e o que fazemos são a mesma coisa, estamos trilhando o caminho da Paixão. Quando escolhemos a Paixão, o que criamos é nós mesmos. É um corpo de trabalho. Quando fazemos algo porque somos apaixonados, não apenas porque podemos, é a diferença entre produtos descartáveis que duram alguns anos e movimentos pela vida que sustentam gerações.

Quem escolheu a Paixão foi o designer industrial David Pierce que tatuou uma régua por todo o comprimento de seu braço, porque sua arte e seu corpo físico são um só.

Quem escolheu a Paixão foi Charles e Ray Eames, que projetaram toda a sua vida juntos e a viveram inteiramente com o design.

Quem escolheu a Paixão foi Steve Jobs referindo-se a Jony Ive não como um colega, nem como um parceiro criativo, mas como um “Parceiro Espiritual”.

Se você acredita que tem algo especial dentro de você, e sente que é hora de tentar, honre esse chamado de alguma forma – hoje.

Se você sentir um nó no estômago porque vê uma enorme distância entre seus sonhos e sua realidade diária, faça algo para agarrar aquilo que deseja – hoje.

Se você está espiando pela borda do penhasco, mas não consegue dar o salto, cave um pouco mais fundo e descubra o que está impedindo você – hoje.

Porque existe uma escolha recorrente na vida, e ela ocorre no cruzamento de 2 estradas. Chegamos a este lugar novamente e novamente. E hoje você pode escolher.

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One Reply to “A Encruzilhada entre Segurança e Paixão — Ellen Luna”

Gabriel Nascimento

Quando li o livro “eu sou as escolhas que faço” da Ellen Luna, já quis fazer um resumo de tudo que aprendi nele e todas as inspirações que tive…

Mas descobri que o livro teve como principio um artigo, então achei melhor manter as palavras da autora e transcrever o artigo original.

Espero que ele te ajude a tomar futuras decisões assim como me ajudou. 😉