A Sutil Arte de Ligar o F*da-se — Mark Manson

Jornada do Programador

A Sutil Arte de Ligar o F*da-se — Mark Manson

Gabriel Nascimento
Escrito por Gabriel Nascimento em 15 de março de 2021

A maioria das pessoas passa a vida dando muito atenção a situações sem importância.

Na minha vida, me importei com muitas pessoas e muitas coisas. Mas também liguei o foda-se para várias outras. E esses momentos em que apertei o botão do foda-se fizeram toda a diferença.

Tradução do artigo “The Subtle Art of Not Giving a Fuck” de Mark Manson. (Artigo que deu origem ao livro)

As pessoas costumam dizer que a chave pra autoconfiança e o sucesso na vida é simplesmente estar pouco se fudendo. Na verdade, muitas vezes mencionamos às pessoas mais fortes e admiráveis que conhecemos baseado na capacidade de lutar pelo que querem sem se importar com mais nada. Tipo “Olha pra Susie trabalhando nos fins de semana de novo, ela é persistente” Ou “Você ouviu que Tom chamou o presidente da empresa de imbecil e ainda conseguiu um aumento? Puta merda, esse cara tá pouco se lixando e ainda conseguiu.” Ou “Jason terminou seu encontro com a Cindy depois de 20 minutos. Ele disse que não ia ouvir as besteiras dela. Velho, aquele cara não liga pra ninguém.”

Provavelmente, você conhece alguém que, em algum momento, passou a realizar grandes feitos depois de apertar o botão do foda-se. Talvez haja um momento em sua vida que você simplesmente não deu a mínima para os obstáculos e alcançou alturas incríveis. Eu sei, por mim, que largar meu emprego diurno em finanças depois de apenas 6 semanas,  dizendo ao meu chefe que venderia conselhos amorosos online, está no topo do meu hall da fama do “ligar o foda-se”. O mesmo acontece com a decisão de vender a maior parte dos meus bens e me mudar para América do Sul. Preocupações? Nenhuma. Simplesmente fui e fiz.

tim exercendo a sutil arte de ligar o foda-se

Agora, embora ligar o foda-se possa parecer simples, é como um saco de burritos sob o capô. Eu nem sei o que essa frase significa, mas estou pouco me fudendo. Um saco de burritos parece incrível, então vamos seguir com isso.

O que quero dizer é: a maioria de nós passa a vida dando muita importância a situações que merecem o botão do foda-se. Nos importamos com o rude frentista de um posto de gasolina que nos deu muitas moedas. Nos importamos quando um programa que gostamos é cancelado. Nos importamos quando nossos colegas de trabalho não perguntam sobre nosso maravilhoso fim de semana. Nos importamos quando está chovendo e deveríamos correr pela manhã.

Preocupações em todos os lugares. Espalhadas como sementes na porra da primavera. E com que propósito? Por que razão? Conveniência? Comodidade? Um maldito tapinha nas costas, talvez?

Esse é o problema, meu amigo.

Porque quando o foda-se não está acionado — quando nos importarmos com tudo e todos — sentimos como se tivéssemos o direito inabalável de ficar confortável e feliz o tempo todo. Nesse momento, é quando a vida nos fode.

Na verdade, a capacidade de reservar nossa atenção apenas para as situações mais fudidas com certeza tornaria a vida muito mais fácil. O fracasso seria menos assustador. Rejeições menos dolorosas. Obrigações desagradáveis menos desgastantes e as más noticias um pouco mais aceitáveis. Quero dizer, se pudéssemos ter menos preocupações, ou algumas preocupações conscientemente direcionadas, então a vida seria bem mais fácil.

O que não percebemos é que existe uma sutil arte pra ligar o foda-se. As pessoas não nascem com o botão do foda-se ligado. Na verdade, nascemos com o botão funcionando ao contrário: nos importando com tudo. Nunca viu uma criança chorar porque seu chapéu é do tom errado de azul? Pois é. Foda-se essa criança.

Desenvolver a capacidade de escolher com o que se importar, vai te proporciona força e integridade. Devemos aprimorar nosso senso do foda-se ao longo dos anos e décadas. Como um bom vinho, nossa atenção deve envelhecer na garrafa, e apenas ser servida nas ocasiões mais especiais.

Isso pode parecer fácil. Mas não é. A maioria de nós, na maior parte do tempo, é sugado pelas trivialidades mesquinhas da vida, arrastado pelos dramas sem importância; vivemos e morremos pelas notas de rodapé, distrações e desequilíbrios que sugam a nossa vida.

Isso não é jeito de se viver. Então pare de brincar e junte suas preocupações. Porque vou mostrar para você 3 “sutilezas” que ajudarão nessa questão:

Sutileza #1 – Ligar o foda-se não significa ser indiferente; Significa estar confortável em ser diferente

Quando se fala em ligar o foda-se, as pessoas imaginam que seja uma serena e perfeita indiferença em relação a tudo, uma calmaria capaz de anular todas as tempestades.

Isso está errado. Não há absolutamente nada de admirável ou confiante na indiferença. Pessoas indiferentes são fracas e medrosas. Elas são parasitas preguiçosos e trolls da internet. Na verdade, pessoas indiferentes cultivam a indiferença porque não sabem ligar o foda-se. Elas têm medo do mundo e das repercussões de suas próprias escolhas. E por isso, não fazem nenhuma. Escondem-se no apático poço cinzento de egocentrismo e autopiedade que criaram, distraindo-se eternamente dessa coisa insuportável chamada vida, que exige tanto tempo e energia.

Há pouco tempo, um amigo da minha mãe roubou uma boa quantia de dinheiro dela. Se eu fosse indiferente, teria dado de ombros, tomado um gole do meu cappuccino e baixado mais uma temporada de The Wire. Que pena, mãe.

Mas não; eu fiquei indignado. Fiquei furioso. Eu falei: “Vamos atrás dele e meter um processo nesse filho da puta. Por quê? Porque eu não dou a mínima! Vou arruinar a vida desse cara se for preciso.”

Essa situação ilustra a primeira sutileza do foda-se. Quando dizemos: “Nossa, cuidado, o Mark Manson está pouco se fudendo”, não estamos dizendo que o Mark Manson não liga para nada. Pelo contrário: estamos dizendo que o Mark Manson não está nem aí para os obstáculos que o separam de seus objetivos, não quer saber se vai irritar algumas pessoas para fazer o que considera certo, importante ou nobre. Estamos falando que o Mark Manson é o tipo de cara que escreve sobre si mesmo na terceira pessoa e usa a palavra ‘foda-se’  de 127 maneiras diferentes em um artigo apenas porque pensou que era o certo a se fazer. Ele está pouco se fudendo.

Isso é o mais admirável — Não, não eu, seu tonto — o conceito de superar as adversidades.  Encarar o fracasso de frente e mostrar o dedo do médio para ele. É admirável quem liga o foda-se para os problemas, para as derrotas, para o risco de fazer papel de bobo ou de se dar mal algumas vezes. Quem ri do perigo e segue em frente. Porque sabe que é certo. Sabe que é mais importante que si mesmo, mais importante que seus sentimentos, seu orgulho e seu ego. Essas pessoas não dizem “foda-se” para tudo na vida, e sim para tudo que é dispensável na vida. Elas guardam sua preocupação para o que realmente importa. Amigos. Família. Objetivos. Burritos. E 1 ou 2 processos judiciais de vez em quando. E por elas reservarem seu “foda-se” para o que realmente importa, as outras pessoas passam a se importar também.

Frank Zappa está pouco de fudendo

Sutileza #2 – Se quiser ligar o foda-se para as adversidades, primeiro você precisa se importar com algo mais importante que elas

Eric Hoffer uma vez escreveu : “É provável que um homem cuide da sua vida quando vale a pena cuidar dela. Quando não é, ele desvia sua mente de seus próprios assuntos irrelevantes para cuidar da vida de outras pessoas.”

O problema com as pessoas que distribuem foda-se como sorvete em um acampamento de verão é que elas não têm nada mais digno de importância para se dedicar.

Imagine que você está no supermercado e vê uma senhorinha gritar com o caixa, reclamando por não aceitar seu cupom de 30 centavos. Por que ela se importa com isso? São apenas 30 centavos.

Bem, vou te explicar o porquê: aquela senhora não deve ter nada melhor para fazer com seus dias além de ficar em casa catando promoções no jornal. Ela é velha e solitária. Os filhos são uns escrotos que nunca a visitam. Ela não transa há mais de 30 anos. Não consegue peidar sem sentir uma dor horrorosa na lombar. Sua aposentadoria não dá para nada, e ela provavelmente vai morrer de fralda achando que está na Terra das Fadas.

Então, ela coleciona cupons. É tudo que essa senhora tem. Só ela e os seus malditos cupons de promoção. É só com isso que ela se importa, porque não existe mais nada para se importar. Assim, quando aquele caixa de 17 anos, e cheio de espinhas, se recusa a validar seu cupom, quando defende a pureza de sua caixa registradora como os cavaleiros medievais defendiam a virgindade das donzelas, pode apostar que a vovó vai explodir e gritar na cara dele. Oitenta anos de frustração vão desmoronar de uma vez, uma furiosa tempestade de “Na minha época” e “Ninguém mais tem respeito”.

Se você estiver sempre dando importância demais para tudo quanto é coisinha — a nova foto que seu ex postou, as pilhas do controle remoto que acabaram de novo, a promoção de sabonete líquido que você perdeu — é bem possível que sua vida esteja um marasmo e você não tenha nada legítimo para se importar. Esse é seu verdadeiro problema. Não o sabonete líquido. Não o controle remoto.

se importar com o leite derramado
Muita importância dada

Na vida, devemos nos importar com alguma coisa. Não existe isso de não se importar com nada. A questão é como cada um de nós escolhe distribuir nossas preocupações. Você só pode se preocupar com um número limitado de coisas ao longo da vida, então escolha com cuidado. Como meu pai costumava dizer: “Foda-se não cresce em árvore, Mark”. Tudo bem, ele nunca disse isso. Mas foda-se, finja que ele disse. O ponto é que o foda-se deve ser conquistado e depois investido com sabedoria. Foda-se é cultivado como a porcaria de um lindo jardim.

Sutileza #3 – Temos um número limitado de foda-se para dar; Escolha com cuidado a onde e para quem entregar

Quando somos jovens, tudo é novo e empolgante, e tudo parece absurdamente significativo. Aí damos importância a tudo. Ligamos para tudo e todos: o que estão falando de nós, ou se aquele garoto ou garota vai ligar, se estamos usando meias do mesmo par, de que cor são nossos balões de aniversário.

Conforme envelhecemos, ganhamos experiência e começamos a notar que a maioria dessas coisas não interfere em nada em nossa vida. Nem convivemos mais com aquelas pessoas que tanto tentávamos impressionar. Rejeições dolorosas se mostraram positivas depois. Percebemos que mal reparam em nossos detalhes superficiais e decidimos fazer mais coisas para nós mesmos, e menos para os outros.

Basicamente, nossa disposição emocional se torna mais seletiva. Isso se chama ‘maturidade’. É legal. Você deveria experimentar qualquer dia desses. Maturidade é o que acontece quando aprendemos a só ligar para o que vale a pena. Como disse Bunk Moreland para o parceiro, o detetive McNulty, em The Wire (que eu baixei mesmo, foda-se): “É isso o que você ganha por se importar quando não é a sua vez.”

Então, quando envelhecemos e chegamos à meia-idade, outra mudança acontece. O nível de energia cai. A identidade se consolida. Sabemos quem somos e não temos mais o desejo de mudar o que parece inevitável.

E, por mais estranho que pareça, isso é libertador. Não precisamos mais nos importar com tudo. A vida é assim. E nós a aceitamos, com defeitos e tudo. Percebemos que nunca vamos desenvolver a cura para o câncer, nunca iremos à Lua nem sairemos com a Jennifer Aniston. E tudo bem. Vida que segue. Passamos a reservar nossa preocupação cada vez mais escassa ao que realmente merece atenção: família, melhores amigos, pontuação no golfe. E, para nosso espanto, isso é suficiente. Na verdade, ficamos felizes pra cacete depois dessa simplificação.

frankly a sutil arte de ligar o foda-se

Então um dia, acordamos e ficamos velhos. E junto com nossos dentes e nosso desejo sexual, nossa capacidade de se importar diminuiu ao ponto de não existir. No final dos nossos dias, levamos uma existência paradoxal onde não temos mais energia para nos importarmos com os grandes fatos da vida, e em vez disso dedicamos a pouca energia que nos resta aos aspectos mais simples e mundanos, porém cada vez mais difíceis, da nossa vida: onde almoçar, consultas médicas para nossas articulações, descontos de 30 centavos no supermercado e dirigir sem cair no sono e acabar matando alguém. Você sabe, questões práticas.

Então um dia, em nosso leito de morte, (com sorte) cercado pelas pessoas que nos importamos ao longo de nossa vida, e aqueles poucos que ainda se importam conosco, com um suspiro silencioso vamos gentilmente deixar nossa última preocupação ir. Através das lágrimas, dos bipes do monitor cardíaco e da luminosidade que nos envolve no ambiente hospitalar, caímos em um vazio desconhecido e inacreditável.

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3 Replies to “A Sutil Arte de Ligar o F*da-se — Mark Manson”

Só uma aleatória 😌

Porra eu amei pra caceta,parar de me importar com opiniões e comentários maldosos, isso me deixou alíviada 😌

Gabriel Nascimento

Esse artigo também me ajudou bastante. 🙂

Gabriel Nascimento

Quando li o livro “a sutil arte de ligar o f*da-se” do Mark Manson, fiz tantas anotações que quase deu um segundo livro. haha

Pensei em arrumar e publicar essas anotações, mas descobri que o livro teve como principio um artigo. Então achei melhor manter as palavras da autor e traduzir o artigo original.

Espero que ele te ajude a tomar futuras decisões assim como me ajudou. 😉

OBS: Busquei seguir o texto original a risca, mas realizei algumas mudanças em trechos exageradamente indevidos.